O Perigo de Ser Eficiente

Você se considera eficiente? Você é daquelas pessoas que se orgulha de ser um realizador de projetos, um resolvedor de problemas?

Você é daqueles que está sempre com a solução na ponta da língua, que não gosta de perder tempo com coisas irrelevantes?

Meus parabéns, pois você sem dúvida conseguiu se adaptar às necessidades desse mercado de trabalho sempre mais e mais competitivo, onde sucesso é sinônimo de soluções. Por outro lado, se essa é a sua única qualidade, meus pêsames, pois você está perdendo o bonde.O que era bom há cinco anos atrás, hoje já está obsoleto. Antigamente, o que interessava era fazer o projeto o mais rápido possível, no menor custo. Hoje, existe um fator a mais: manter o seu capital humano em alta.

O que isso quer dizer? Ouço um número cada vez maior de executivos reclamando que o seu desejo de eficiência anda mal compreendido. Sentem-se frustrados, pois se dedicaram tanto ao objetivo de se tornar altamente eficientes, puros solucionadores, mas o feedback que recebem de seus pares, chefes ou subordinados mostra uma outra realidade – são vistos como rolos compressores, como pessoas agressivas, ameaçadoras, que causam tensão e temor. Com o tempo criam mais inimigos do que aliados, são sabotados pela falta de cooperação dos outros e acabam sendo considerados líderes inefetivos pois, ao invés de motivar sua equipe, a assustam.

Foi feito um experimento na Inglaterra com dois times. O time A dava ordens e o time B executava a tarefa. A líder do time A queria eficiência absoluta e dava ordens da maneira mais pratica e rápida. O time B se sentia desrespeitado e queria que ela fosse mais gentil, o que para ela era irrelevante para a cumprimento da tarefa. Assim, a tarefa que, sob condições normais demoraria 90 minutos, levou quase 3 horas para ser executada, devido as discussões e má vontade do time B de se submeter ao estilo da líder. E mais, o time B ficou encarregado de fazer a janta para o time A. Foi a hora da vingança .

Precisamos rever nossos conceitos de eficiência, pois estamos vivendo numa sociedade nova. É impressionante que reclamamos que as pessoas não mudam, mas a mudança anda tão rápida que muitos têm dificuldade em percebê-la. .

Estamos na era do capital humano. As pessoas hoje exigem respeito e valorização. O chefe que ainda diz “Motivar para quê? Eles são pagos para exercer sua função!!”, está mostrando ser desatualizado. Estudos mostram que o salário (apesar de muito importante) não é o item de satisfação mais importante do trabalhador. Está na hora de aplicar esse conceito na realidade. Há mais e mais profissionais deixando seu cargo por outro de salário um pouco menor, mas onde se sentem mais respeitados, onde se sentem mais importantes…mais humanos e menos máquinas.

O líder que não respeita ou reconhece essa necessidade e que usa a eficiência como desculpa para não “perder tempo” com estas coisas não é visto como eficiente, e sim como autoritário. Reinados deste tipo vão durar pouco. No começo ele parece conseguir fazer tudo funcionar como uma máquina, mas impera no seu time a energia do medo. Todos ficam continuamente em estado de tensão ao seu redor. Assim, o desgaste emocional para a realização de qualquer tarefa é grande demais. Com o tempo, as pessoas reagem de forma ativa (protestam abertamente, falam mal dele) ou de forma passiva (se esquecem de fazer a tarefa, começam a errar com frequência, fazem mal-feito, mudam de emprego).

A verdadeira eficiência vem do líder que reconhece que não há nada mais efetivo do que um time de pessoas que o respeitam por que se sentem respeitadas por ele. O seu objetivo não é apenas dar ordem, mas motivar as pessoas a participarem. Esta motivação ele só consegue quando faz contato real com as pessoas, fazendo-as se sentirem importantes. Ele sabe que, numa sociedade onde tantos sofrem de uma crença generalizada na própria impotência e inadequação, nada mais efetivo do que lembrar que o outro é um ser humano que merece ser tratado com valor e não apenas um seguidor de ordens. Os mais antiquados resistirão a este conceito, taxando-o de politicagem, perda de tempo, etc. Os mais eficientes o aplicam constantemente, pois sabem que, a partir do momento que o outro se sente importante com o tratamento que lhe é dado, ele se torna um aliado. E quanto maior o número de aliados, mais rápido se realiza qualquer projeto.

Fonte: Jornal Valor Econômico
Fonte: Revista Exame